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    Barra Crachás

    16 de setembro de 2015

    A PROJECÇÃO E ALGUMA ACTUAÇÃO DAS TROPAS PÁRA-QUEDISTAS

    O Primeiro Desfile
    Preparando-se uma parada de forças militares e para-militares, na qual pela primeira vez se integravam Tropas Pára-quedistas, na Avenida da Liberdade, perante a alta Hierarquia Nacional e grande público, houve quem tentasse estabelecer condições tendentes à minimização do provável brilho daquelas Tropas, na sua primeira apresentação ao País. Porém e independentemente de tais condições, os pára-quedistas desfilaram impressionante e espectacularmente, dando uma sensação invulgar de aprumo e atavio, de força e poder.
    Todos os assistentes ficaram maravilhados, encantados com semelhantes Tropas. Mas no subconsciente de algumas elevadas entidades, passou um vago sentimento de receio de quem emanava tanta força e poder.






    O Exercício Himba
    Em 1959 e precedendo a instalação da Força Aérea no Ultramar Português, realizou-se o exercício Himba. Nele se deslocaram a Angola 6 aviões de combate, 2 bimotores de transporte e 6 quadrimotores igualmente de transporte, e nestes últimos seguiu uma companhia de pára-quedistas. Todos fizeram escala em Cabo Verde, na Guiné e em São Tomé e Príncipe.
    À saída de Lisboa verificou-se um lamentável acidente com um 3º bimotor de transporte que vitimou toda a sua tripulação. Mas e independentemente da dor por todos sentida, nem por isso o exercício foi cancelado ou mesmo alterado no seu ritmo.
    Em Angola tiveram lugar demonstrações de bombardeamento e ataque ao solo - em Luanda -, e lançamentos e desfiles de pára-quedistas - em Luanda, Nova lisboa e Sá da Bandeira. Tudo foi um enorme sucesso, mas as forças pára-quedistas, nos lançamentos e mesmo nos desfiles, produziram o maior impacto, deslumbrando autoridades e as populações de todas as etnias.
    O respectivo eco depressa chegou a Lisboa.


    O Começo da Subversão em Angola
    Em 15 de Março de 1961, bandos de elementos nativos, muitos vindos do exterior e todos eles impulsionados por esse exterior, e intoxicados com falsas ideias e com drogas verdadeiras, arrasaram parte do Noroeste de Angola, produzindo pelas formas mais selvagens e bárbaras, milhares de vítimas nas populações branca e negra. Estas populações surpreendidas e indefesas não podiam garantir a própria segurança, e as forças militares e para-militares exixtentes eram, nos seus efectivos e meios de combate, totalmente insuficientes para enfrentarem a situação.
    Mas logo no dia seguinte, 16 de Março, partiram por avião, descolando da Base Aérea de Tancos, adjacente ao aquartelamento das Tropas Pára-quedistas, contingentes destas Tropas com destino a Luanda. Foram os primeiros reforços a chegar a Angola. Outros se lhe seguiram na maioria também pára-quedistas e igualmente por via aérea. O inimigo foi detido.
    Um pouco mais tarde, começaram a afluir a Luanda efectivos consideráveis do Exército, agora por via marítima. E foi iniciada a contra-ofensiva portuguesa.
    As Tropas Pára-quedistas, na sua muita contribuição para a detenção do inimigo, prestaram o seu primeiro grande serviço ao País.
    No começo do mês de Abril seguinte, decorriam as diligências e operações tendentes a deter o inimigo em Angola, não tendo começado a contra-ofensiva portuguesa, quando se detectou, em Lisboa, a preparação de um golpe de Estado contra a pessoa do Presidente do Conselho de Ministros, Prof. Oliveira Salazar. Ao que parece a motivação principal do golpe dizia respeito à concessão, pelo menos às Províncias Africanas Portuguesas, do direito imediato à sua autodeterminação política, como, também parece, era preconizado pela Administração Norte-Americana de então. E, sabendo os golpistas que a tal se opunha terminantemente o Prof. Oliveira Salazar, consideravam indispensável a sua substituição no cargo de Presidente do Conselho de Ministros.
    Contudo, o referido golpe, para além da sua absoluta carência de ética, dado ser encabeçado por membros do Governo contra o Presidente desse mesmo Governo, teria, como consequência fatal, o acréscimo desmedido da carnificina em Angola, transformando-a em autêntico holocausto, e teria, também como consequência inevitável a perda para Portugal das suas Províncias Ultramarinas pelo menos em África, destruindo-o como País pluricontinentale multirracial.
    Estas razões e outras havia, eram só por si mais do que suficientes, não só para excluir qualquer alinhamento com o golpe de Estado, como para tudo fazer no sentido de o evitar, combatendo-o de armas na mão se necessário, ou de preferência fazendo-o abortar. Entre as não poucas entidades que assim pensavam contava-se o Subsecretário de Estado da Aeronáutica e todos, com uma única excepção, os chefes militares da Força Aérea.
    Deste modo, teve lugar uma série de medidas tendentes àquele abortamento. Em particular, tendo o Exército entrado de prevenção e de acordo com a Presidência da República, o Subsecretário de Estado da Aeronáutica deu as instruções necessárias para a Força Aérea passar também à situação de prevenção. E sucedia que a situação de prevenção da Força Aérea englobava o deslocamento, de Tancos para Lisboa, de forças pára-quedistas operacionais, deslocamento que logo se efectuou. Este facto - presença de forças páraquedistas operacionais em Lisboa - perturbou altamente os membros do governo golpistas, o que deu lugar a um duro face a face de tais membros do Governo com o Subsecretário de Estado da Aeronáutica. Este declarou que mantinha, e manteve, a Força Aérea de prevenção e, em consequência, forças pára-quedistas em Lisboa prontas a actuar. Após vários desenvolvimentos, os promotores do golpe de Estado desistiram da sua efectivação, pelas cinco horas da tarde do dia 13 de Abril, abortando o golpe.
    Certamente que para tal aborto houve múltiplas razões, mas a ele não foi estranha a presença em Lisboa de forças pára-quedistas operacionais. Esta contribuição, embora apenas potencial, das Tropas Pára-quedistas no abortamento duma acção de consequências desastrosas, em termos humanos e a nível nacional, foi o seu segundo grande serviço prestado ao País

    O Arquipélago de Cabo Verde
    Após o assalto pirata ao paquete Santa Maria, admitiu-se a possibilidade de, inicialmente a partir daquele paquete e posteriormente de qualquer outro barco, elementos rebeldes efectuarem um desembarque numa das ilhas, militarmente desguarnecidas, de Cabo Verde, e aí proclamarem um governo independente de Lisboa. Seria naturalmente um governo fantoche, mas mesmo assim muito perturbador.
    Em consequência, foi determinado que forças pára-quedistas e os respectivos aviões de transporte da Força Aérea estivessem preparados para agir rapidamente, partindo da Metrópole, nas ilhas de Cabo Verde. No entretanto e dentro do possível, fizeram-se reconhecimentos de zonas preferenciais de salto naquelas ilhas.
    Não chegou a ter lugar qualquer tentativa de desembarque como se admitia, mas, de qualquer modo, foi o terceiro grande serviço, também potencial, prestado pelas Tropas Pára-quedistas ao País.

    A Continuação da Luta em Angola
    Em Angola, além da sua acção na detenção do inimigo, as forças pára-quedistas cooperaram naturalmente na contra-ofensiva portuguesa. Em consequência, realizaram estas forças muitas operações, algumas saltando em pára-quedas, como foi o caso de Quipedro, da serra da canda, de Sacandica e da Inga. Sacandica teve especial interesse pelas muito difíceis condições de salto e por corresponder à recuperação do último posto administrativo que ainda o não tinha sido.
    Também, em face de rumores subversivos, as forças pára-quedistas realizaram, com completa surpresa, um salto táctico de demonstração na ilha de São Tomé. Este salto teve enorme projecção no Arquipélago, a todos convencendo de que qualquer eventual rebelião a manifestar-se seria prontamente sufocada.
    De qualquer forma, em Angola e em São Tomé, em operações só terrestres ou precedidas de salto em pára-quedas, as Tropas Pára-quedistas houveram-se brilhantemente, continuando a prestar excelentes serviços ao País.


    General Kaúlza de Arriaga


    O Reencontro em Moçambique
    O autor deste Apontamento saiu da Secretaria de Estado da Aeronáutica em Dezembro de 1962, tendo, algum tempo depois, sido designado Presidente da Junta de Energia Nuclear e Professor da Cadeira de Estratégia do Curso de Altos Comandos do Instituto de Altos Estudos Militares. Assim, deixou de ter contacto directo com as Tropas Pára-quedistas.
    Porém, em Março de 1970, assumiu o Comando-Chefe do Teatro de Operações de Moçambique, onde já estavam instalados os Batalhões de Pára-quedistas operacionais nº31 e 32, respectivamente na Beira e em Nacala. Foi um autêntico reencontro que fez reavivar os vínculos que tinham existido, e nunca se perdendo se haviam esbatido entre o Subsecretário de Estado da Aeronáutica e as Tropas Pára-quedistas.
    As Companhias de Pára-quedistas, juntamente com as Companhias de Comandos e os Destacamentos de Fuzileiros, passaram a constituir uma excepcional reserva do Comandante-Chefe. E nessa qualidade e de acordo com os planos de operações, eram atribuídas, como reforços especiais, a este ou àquele Comando de Zona ou de Sector de Operações, ou, em caso de operações extraordinárias pela sua dimensão ou importância de objectivos, actuavam na depêndencia do Comando Operacional das Forças de Intervenção - COFI.
    Num Teatro de Operações onde decorriam diariamente mais de centena e meia de operações terrestres, as forças pára-quedistas realizaram ou cooperaram em numerosíssimas, tendo-se distinguido a operação Nó Górdio, as que imediatamente a precederam e a seguiram, as operações de Mucumbura e as operações ligadas à segurança de Cabora Bassa, a sua linha de transporte de energia e seus acessos. Em todas, as mesmas Tropas se houveram com brilho, também aqui continuando a prestar excelentes serviços ao País.

    Lisboa, Fevereiro de 1986
    Kaúlza de Arriaga
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